As estatinas são medicamentos normalmente seguros e eficazes, mas que também podem estar associadas a eventos adversos (EA). A miopatia é uma das adversidades conhecidamente associadas a essa classe. A doença possui um espectro de sintomas que varia desde aumento sérico assintomático de creatina quinase (CK), dor ou desconforto ligeiro a moderado (mialgia), miosite, uma inflamação do músculo, até, em última instância, rabdomiólise.
Os idosos representam uma população especialmente vulnerável a eventos cardiovasculares. Entretanto, também podem apresentar maior sensibilidade a reações adversas e uma avaliação risco-benefício do tratamento pode ser complicada nessa situação. Para determinar de maneira robusta o risco de miopatia em idosos que recebem a terapia com estatina, foi realizada uma revisão sistemática conduzida por pesquisadores do Reino Unido.
Os resultados mostraram pouca ou nenhuma evidência de diferença de riscos entre os grupos de tratamento e placebo, para mialgia e eventos adversos musculares combinados. Não foram encontradas evidências de risco aumentado de rabdomiólise nos sete ensaios que avaliaram a questão. Nenhum estudo também relatou mortalidade associada a evento muscular relacionado. De maneira surpreendente, as interrupções de tratamento devido a EA foram significativamente menores no grupo tratamento, quando comparado ao placebo. Os resultados sugerem que as estatinas são relativamente seguras em idosos. Não foram constatadas evidências indicando risco aumentado de miopatia. A taxa de rabdomiólise foi ligeiramente superior em usuários de estatina, entretanto sem significância estatística.
Estudos anteriores indicaram que eventos cardiovasculares apresentam prevalência aumentada em idosos, e que essa população apresenta benefícios robustos associados à utilização de estatinas. Entretanto a prescrição da classe nessa população é negligenciada na prática clínica. A crença de que a incidência de eventos adversos como a miopatia é aumentada em idosos pode contribuir para essa realidade. A presente meta-análise indica que as estatinas apresentam um perfil tolerável de segurança em idosos, e que seu uso deve ser encorajado, quando indicações claras são evidenciadas.
Texto reproduzido de farmaceuticoclinico.com.br
*Wálleri Reis é farmacêutica, mestre em ciências farmacêuticas pela Universidade Federal do Paraná e especialista pela Residência Multiprofissional em Atenção Hospitalar (HC-UFPR). É coautora dos manuais de serviços farmacêuticos da Abrafarma