O teste cutâneo para avaliação de alergia à
penicilina está se tornando uma ferramenta eficaz, de longo prazo, para
otimizar a prescrição de antimicrobianos. Em fevereiro de 2019, a American Journal of Health-System Pharmacy
publicou um guia para a implementação do teste. A publicação discute
os critérios para uso do teste, juntamente com exemplos institucionais,
recursos, restrições legais e sustentabilidade do programa de implementação¹.
“Os farmacêuticos ocupam uma posição estratégica na oferta dos testes cutâneos para avaliação de alergia à penicilina, em razão de suas atribuições como parte da equipe de cuidados de saúde, além de expertise e treinamento no assunto de alergia a medicamentos”, enfatizam os autores.
Uma necessidade real
Aproximadamente 30 milhões de norte-americanos acreditam que são alérgicos à penicilina. Na realidade, menos de 10% tiveram essa comprovação. Estas desinformação leva a um maior uso de antibióticos de segunda linha ou de amplo espectro, o que pode ampliar a resistência antimicrobiana.
A prescrição antibiótica inadequada em pacientes com alergia à penicilina é um alvo inicial para programas de manejo antimicrobiano. As recentes diretrizes da Sociedade Americana de Doenças Infecciosas recomendam o uso do teste cutâneo para avaliação em pacientes selecionados.
Etapas iniciais
Ao implementar o teste pela primeira vez, é importante revisar as etapas de avaliação geral de alergia. “Muitos casos de alergias relatadas são imprecisos e podem ser identificados por meio de uma entrevista com o paciente e avaliação de seu histórico, sem necessidade de realização de testes cutâneos”, afirma Christopher M. Bland, clínico e professor associado da Universidade de Faculdade de Farmácia da Geórgia. Na entrevista com os pacientes é importante levantar informações sobre o tipo e o momento da reação, histórico de reexposição e nomes específicos de agentes β-lactâmicos.
Também é importante designar quem vai liderar a implementação do teste. “Em nossa experiência, locais que falham em lançar programas de teste de pele careciam de uma pessoa importante para liderar o projeto”, reitera Bland. Além disso, é importante entender o propósito geral do teste cutâneo. Por meio dele, é possível limitar a prescrição inadequada de carbapenem em pacientes declarados alérgicos, explica o professor. O teste também pode identificar pacientes que são rotulados como alérgicos à penicilina e que estão recebendo antibióticos não β-lactâmicos, agentes de alto custo, ou antibióticos inferiores. Estas etapas beneficiariam a administração geral antimicrobiana.
É essencial desenvolver uma abordagem direcionada, pois nem todos os pacientes podem ser testados. O teste é indicado para pacientes com hipersensibilidade mediada por imunoglobulina E (IgE), documentada ou suspeita, à penicilina, com reação de alto risco, como urticária ou anafilaxia. Os pacientes não devem ser testados caso apresentem histórico de anafilaxia para β-lactâmicos nos últimos cinco a dez anos; tenham problemas cutâneos que possam interferir na precisão dos resultados; são imunocomprometidos ou estejam ingerindo medicamentos de imunossupressão. Recursos para tratamento de anafilaxia devem estar disponíveis nas instalações.
Ao executar o programa, determine se há alergistas presentes que estejam dispostos a liderar e implementar o teste. A chave para o sucesso é identificar as pessoas que têm paixão em fazer o processo funcionar.
Dados mostraram que a alergia à penicilina leva ao aumento da morbidade e mortalidade, bem como aumento dos custos. Um estudo recente² descobriu que o teste cutâneo foi associado com uma redução significativa de custos, especialmente em pacientes que tiveram seus antibióticos trocados depois de um teste cutâneo negativo.
Superando obstáculos legais
A aprovação de farmacêuticos para administrar o teste varia de acordo com o estado. Dependendo da lei estadual, o farmacêutico pode ter uma atuação. No entanto, os farmacêuticos ainda podem implementar o programa¹. Uma solução é trabalhar com outros profissionais de saúde, que podem administrar o teste cutâneo, como médicos de triagem, alergistas e enfermeiras.
Aconselhamento ao paciente
Os pacientes devem comunicar os resultados do teste para todos os médicos, incluindo profissionais de cuidados primários, especialistas e até dentistas, especialmente se eles são identificados como não alérgicos à penicilina. De outra forma, os pacientes podem acabar com um alerta de alergia em seu prontuário eletrônico. “Entregamos um cartão de bolso, contendo a data do teste, com o resultado negativo como lembrete e forma de documentação”, finaliza Bland.
Referências
1. Bland CM, et al. Am J Health-Syst Pharm.
2019; 76: 136–47
2. Jones BM e Bland CM. Am J HealthSyst Pharm. 2017; 74: 232–37 Fonte: Maria G. Tanzi para a Revista Pharmacy Today. Clique aqui para ler o artigo original.