Avaliando de maneira simplista, o uso de betabloqueadores (BB) em pacientes com insuficiência cardíaca (IC) parece um pouco incoerente, principalmente considerando seus efeitos inotrópicos negativos. O coração já não está funcionando bem e eu ainda vou bloquear o sistema nervoso simpático? Isso não levará à piora do quadro?
Pois é, nem sempre tudo é tão lógico. Hoje, sabe-se que na IC existe regulação neuro-humoral com estimulação do simpático e liberação de catecolaminas. E, ao contrário da ideia inicial de que se trata de algo positivo para o coração, esse estímulo contínuo apresenta efeitos deletérios à função e à geometria miocárdica, incentivando o remodelamento cardíaco e a progressão da insuficiência.
Remodelamento
O remodelamento é definido como a alteração na estrutura (dimensões, massa, forma) do coração em resposta à carga hemodinâmica e/ou lesão cardíaca em associação com a ativação neuro-hormonal. Ele pode ser descrito como fisiológico ou patológico.
Fonte: Pontes, MRN; Leães, PE. Remodelamento Ventricular: dos Mecanismos
Moleculares e Celulares ao Tratamento.
Atuação dos betabloqueadores
Os betabloqueadores (BB) apresentam diversas atuações na fisiologia e no metabolismo do cardiomiócito de pacientes com IC, em decorrência de sua ação no antagonismo da atividade simpática. Os benefícios contemplam a melhora clínica e da função ventricular, com aumento da sobrevida dos pacientes.
Os BB apresentam benefícios clínicos comprovados, tais como a melhora da classe funcional, redução da progressão dos sintomas de IC e de internação hospitalar, em pacientes com disfunção sistólica, classe funcional I a IV da NYHA. Os BB com eficácia clínica comprovada no tratamento são: carvedilol, bisoprolol e succinato de metoprolol.
Quando associados aos inibidores da enzima conversora da angiotensina (iECA) e aos bloqueadores dos receptores da angiotensina II (BRA), esses medicamentos aumentam a sobrevida por redução na mortalidade global e cardiovascular. Há uma diminuição de cerca de 20% nas mortes por progressão da insuficiência e de 36% a 44% na morte súbita. Estes benefícios foram demonstrados de forma semelhante com os três BB de eficácia comprovada.
Referências
3. UpToDate. Use of beta blockers in heart failure due to systolic dysfunction. Disponível em: http://www.uptodate.com/contents/use-of-beta-blockers-in-heart-failure-due-to-systolic-dysfunction?detectedLanguage=es&source=search_result&translation=beta+blockers+and+heart+failure&search=betabloqueadores+e+insuficiencia+cardiaca&selectedTitle=1~150&provider=google.
4. Sociedade Brasileira de Cardiologia. Atualização da Diretriz Brasileira de Insuficiência Cardíaca Crônica – 2012 Arq Bras Cardiol 2012; 98(1 supl.1): 1-33.
5. Sociedade Brasileira de Cardiologia. III Diretriz Brasileira de Insuficiência Cardíaca Crônica Arq Bras Cardiol 2009; 93(1 supl.1): 1-71.
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Texto reproduzido de farmaceuticoclinico.com.br
*Wálleri Reis é farmacêutica, mestre em ciências farmacêuticas pela Universidade Federal do Paraná e especialista pela Residência Multiprofissional em Atenção Hospitalar (HC-UFPR). É coautora dos manuais de serviços farmacêuticos da Abrafarma