Caminhos alternativos. Frente à insustentabilidade do setor, próximos investimentos tendem a ser mais criativos, é o caso dos condo-hospitais, formato similar ao que já acontece na hotelaria.
São Paulo – O aumento dos custos assistenciais na saúde suplementar, envelhecimento da população e a chegada do capital estrangeiro estão formando a tempestade perfeita para mudanças estruturais no mercado hospitalar, esperadas há muito tempo. De novos modelos de negócio a consolidação de redes, a mudança agora, parece ser irreversível.
“O que está ocorrendo não é conceitualmente novo, mas o que não acontecia antes era uma pressão tão grande dos custos, que está quase quebrando o sistema de saúde privado, o avanço e implementação de tecnologia da informação (TI) e a entrada do investidor estrangeiro que quer retorno sobre investimento (ROI) e taxa interna de retorno (TIR)”, diz o sócio-diretor da L+M, Lauro Miquelin.
Segundo ele, a tendência é que os investimentos em redes de cuidado ‘do nascer ao morrer’ aumentem, sobretudo, com perspectivas melhores da economia que devem voltar a atrair fundos de investimento externo. “É algo que já se falava, mas não se fazia, porque as condições de mercado eram diferentes, até melhores” discorre.
Para o executivo, a atuação em rede ou plataforma de atendimento pode garantir o fluxo de pacientes nos negócios, dá ganho de escala na compra de insumos e diminui a centralização dos cuidados no hospital, conhecido como ‘hospitalocentrismo’ do brasileiro, já que acaba saindo mais caro. “Com isso vai cair a demanda em grandes hospitais renomados? Não. Acredito que dê espaço para que melhorem o atendimento, mas junto com isso estejam integrados a uma plataforma de atendimento de outras redes, seja de cuidado paliativo, transição ou atendimento para o idoso, por exemplo”, destaca.
“Mesmo de forma pontual, isso já começa a ser visto na consolidação de grupos hospitalares. Acredito que o próximo passo seja a formação de rede”, destaca. Entre as últimas movimentações anunciadas ao mercado estão as aquisições feitas pela Rede D’Or, Rede Ímpar e até entre operadoras como Unimed, Amil, Hapvida e NotreDame-Intermédica. “Na minha opinião, acredito que depois de consolidar hospitais, as redes devam explorar outras iniciativas de cuidado como clínicas, assistência a crônicos e hospitais de retaguarda”, destaca.
Para ele, os principais consolidadores do mercado serão operadoras de saúde, redes hospitalares e fundos nacionais e estrangeiros. “Com as taxas de juros caindo, os gestores de private equity estão voltando a pensar em investimentos produtivos”. Além dos ganhos mercadológicos, Miquelin destaca que a movimentação pode ser uma nova era para o atendimento. “A gestão integrada vai devolver a margem ao setor e permitir que o usuário sonhe com um futuro mais decente tanto no setor privado como no público que será influenciado”, diz.
Oportunidades
Para o presidente da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), Francisco Balestrin, a organização no modelo de rede vem em linha com a busca por maior controle da demanda – muito necessário no atual cenário da saúde -, contudo, ele destaca que é necessário ter cautela “As clínicas populares estão surgindo como modernidade, mas é retrocesso se só tratar os sintomas e não estiver ligado a uma rede de referência”, opina.
Para ele, além da criação de redes, outra tendência são modelos que fatiam o atendimento por grau de complexidade. “Isso no atual sistema fee for service [pagamento por serviço, na sigla em inglês] pode fazer sentido, pois tem um custo mais baixo que o hospital geral.”
Em linha
Na tentativa de atender estas demandas, a Dealmed em parceria com a Planisa criaram o CirurDia, unidade hospitalar exclusiva para a realização de cirurgias de baixa e média complexidade . “Hoje, experiência nos Estados Unidos, Canadá, Portugal e Inglaterra mostram que cerca de 70% das cirurgias não precisavam estar em hospitais gerais”, contou, em exclusiva ao DCI o diretor da Dealmed, Roberto Tolomei. Para ele, apesar de existir no País iniciativas como o do hospital dia, são modelos isolados que atuam como hospitais pequenos e sem ser em rede, o que dificulta a oferta de serviços a um custo menor.
De acordo com o executivo, nos Estados Unidos são mais de seis mil unidades de centros cirúrgicos ambulatoriais que realizam mais de 25 milhões de procedimentos por ano. “As cirurgias são cerca de 30% a 40% mais baratos e cerca de 99% dos casos saem no mesmo dia do procedimento. O hospital fecha as portas a noite e isso possibilita o baixo custo”, coloca. Segundo o executivo, o tripé para o sucesso do modelo é o baixo custo, a segurança e excelência de qualidade. “Nos EUA todos os centros são acreditados para garantir isso da porta de entrada do paciente com uma análise de risco prévia do médico e do anestesista até a saída.”
Além disso, ele contou que a companhia já formou parceria com o Instituto de Acreditação e Gestão em Saúde (IAG) para a implementação do modelo de remuneração DRG (Grupos de Diagnósticos Relacionados, na sigla em inglês), iniciando assim sem a grande ‘pedra no sapato das operadoras’, o modelo de remuneração por serviço.
Outra novidade do modelo de estruturação e expansão da rede será a adesão ao modelo de condo-hospital. Assim como o condo-hotel, o modelo terá investidores pulverizados, em sua maioria médicos que possam atuar no CirurDia e assim garantir a própria demanda da unidade em que é acionista. “Queremos que 60% do empreendimento seja de médicos investidores com cerca de 1,5% de participação cada. Os outros 40% serão da Dealmed participações, com investidores de outras áreas”, diz Tolomei. A Dealmed Desenvolvimento e Gestão será o braço de negócio que vai cuidar da administração.
Assim, a ideia é que cada médico investidor tenha uma grade de horários na unidade. “O médico também é dono e com isso evitamos problemas com fraude, por exemplo. Vamos negociar o preço do procedimento diretamente com ele e repassar à operadora, o que dá previsibilidade de custos”. O investimento para cada médico fica entorno de R$ 350 mil.
Já são seis unidades confirmadas em Porto Alegre, Caxias do Sul, Itajaí, Florianópolis, Campinas e São Paulo. “A projeção é de atingir 30 unidades em cinco anos e realizar cerca de 650 cirurgias por mês em cada unidade que deve ter entre seis a sete salas e 20 leitos de recuperação pós-operatória.
Fonte: DCI – São Paulo