Quem realiza procedimentos que envolvem risco de acidente com material perfurocortante deve sempre estar atento às medidas de prevenção. Nesse tipo de acidente, ainda muito prevalente na área da saúde, há o risco de adquirir infecções pelos vírus da imunodeficiência humana (HIV), hepatite B (HBV) e hepatite C (HCV). Para se prevenir, lembre-se sempre das precauções padrão.
Sabe aquela frase antiga “melhor prevenir do que remediar”? Ela cabe aqui, mas ficaria perfeita da seguinte forma: “a melhor prevenção é não se acidentar”.
Intervenções para profilaxia pós-exposição (PEP) da infecção pelo HIV e HBV devem ser iniciadas logo após a ocorrência do acidente, para garantir maior eficácia. Acidentes de trabalho que envolvem o risco biológico, nos quais há, por exemplo, o risco de contato com sangue potencialmente contaminado, devem ser tratados como urgência.
Infelizmente, o que verificamos hoje é um alto índice de subnotificação e de abandono do tratamento pelos profissionais que iniciaram profilaxia após notificação de acidente. Sabe-se também que, muitas vezes, o profissional negligencia o risco e não toma nenhum cuidado. Nem sempre se sabe o que deve ser feito quando o acidente acontece.
Em cada município há estabelecimentos de saúde que são referências para esses atendimentos. Os mesmos devem fornecer atendimento médico e medicamentos de forma gratuita, não importando se a origem do acidentado é de algum serviço público ou privado. Gestores das farmácias e farmacêuticos devem ter conhecimento sobre qual é o estabelecimento de referência para o atendimento de profissionais que sofreram acidentes com material biológico. Manter registro do endereço de forma visível é fundamental, pois agiliza a realização de atendimento médico do profissional.
O acidentado deve fazer a descrição rigorosa do acidente, o que contempla algumas informações importantes:
Idealmente, a pessoa-fonte deve acompanhar o acidentado ao estabelecimento, para que seja realizada a testagem de HIV, HBV e HCV (status sorológico da pessoa-fonte). Contudo, isso não é obrigatório, pois não deve atrasar o início da profilaxia pós-exposição (PEP). E ninguém pode ser obrigado a realizar esses testes. O status sorológico do acidentado para HIV, HBV e HCV também será avaliado, além do seu estado vacinal para HBV.
Diversas informações sobre o acidente, sobre a pessoa-fonte e vacinação prévia são fundamentais para esclarecer se há risco de infecção para o HIV, hepatites B e C e para nortear a decisão do médico quanto à intervenção necessária. Para que uma eventual profilaxia possa ser instituída, a avaliação do acidentado deve ocorrer o mais precocemente possível após a exposição.
Situações de exposição ao vírus do HIV precisam ser tratadas como urgências, já que “não há benefício da profilaxia com antirretroviral após 72 horas da exposição”. A profilaxia para infecção pelo HBV depende da condição do profissional exposto (se está vacinado e tipo de resposta vacinal, por exemplo).
As condutas podem ser a administração da vacina e/ou da gamaglobulina hiperimune. Uma coisa é fato: todo profissional de saúde deve estar imunizado contra a hepatite B. Isso é possível por meio das três doses da vacina, além da realização do exame de anti-HBS para confirmar soroconversão. E o mais alarmante: quando se tratar de hepatite C, a única medida eficaz para eliminação do risco de infecção é a prevenção. Ainda não há vacina.
Artigo reproduzido da Aplicar Conteúdos em Saúde
*Beatriz Lott é farmacêutica, mestre em educação em Diabetes pela Santa Casa de Belo Horizonte. Tem especialização em Gestão com Ênfase em Marketing pela Fundação Dom Cabral. Integrante do corpo docente do curso de pós-graduação da Abrafarma/ I-Bras
*Ana Paula Alves André é professora e coordenadora regional de MG da Pós Graduação em Farmácia Clínica e Serviços Farmacêuticos da Abrafarma/I-Bras. Professora da Faculdade Santa Rita, Conselheiro Lafaiete-MG.
Referências:
BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. SECRETARIA DE ATENÇÃO À SAÚDE. DEPARTAMENTO DE AÇÕES PROGRAMÁTICAS ESTRATÉGICAS. Exposição a materiais biológicos / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2006.
BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAUDE. DEPARTAMENTO DE VIGILÂNCIA, PREVENÇÃO E CONTROLE DAS INFECÇÕES SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS, DO HIV/AIDS E DAS HEPATITES VIRAIS. Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas para profilaxia pós-exposição (PEP) de risco à Infecção pelo HIV, IST e hepatites virais. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2017.
PLÁCIDO, G.; GUERREIRO, M. Administração de vacinas e medicamentos injetáveis por farmacêuticos: Uma abordagem prática. Lisboa: Ordem dos Farmacêuticos, 2015.