Fonte: Jornal Dia a Dia.
Pesquisa aponta que atuação de farmácias como “centros de cuidado” aumentaria aderência ao tratamento e diagnóstico precoce, diminuindo filas da Saúde.
O projeto brasileiro de Assistência Farmacêutica Avançada tem como ponto de partida as dificuldades enfrentadas pelos pacientes nos sistemas de saúde público e privado, assim como a necessidade de uma maior cobertura para ampliação de medidas preventivas, acesso a diagnóstico precoce de doenças e acompanhamento dos pacientes. Mais do que isso, a iniciativa da Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma) tem como modelo a experiência norte-americana, país em que as transformações dos últimos 20 anos têm desempenhado papel fundamental na atenção primária à saúde.
Para entender a necessidade do projeto, a Associação realizou uma pesquisa junto com o IBOPE Inteligência, com base em 2002 entrevistas feitas em 143 municípios diferentes. Como resultado, descobriu-se que mais de metade dos pacientes brasileiros (53%) não segue corretamente os tratamentos indicados pelos médicos. Dos entrevistados, 26% afirmam ter dificuldades em retornar ao médico para acompanhar o tratamento devido à agenda do especialista, fila de espera e custo, enquanto 23% conta que abandonaram as medicações prescritas devido ao incômodo causado por efeitos colaterais. Ao mesmo tempo, 21% deles confirma que pararam de seguir o tratamento quando se sentiram melhor, mesmo antes do fim do período indicado pelo médico.
Com base nesses dados e necessidades, a Abrafarma encabeça o projeto de Assistência Farmacêutica Avançada . A ideia é permitir que as drogarias realizem oito serviços diferentes, criando uma condição definida pela Associação como Care Center. Estão compreendidos no projeto os cuidados com questões como hipertensão, diabetes, colesterol, revisão de medicação, imunização, automedicação, tabagismo e até perda de peso.
O pontapé para o projeto foi dado com a Lei n° 13.021/14, que amplia a atuação do farmacêutico como agente de saúde, tornando possível a prestação dos serviços de assistência farmacêutica. Ainda assim, a Abrafarma pontua que segue pendente a regulamentação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mesmo após o órgão ter reconhecido a importância do projeto.
Nesse cenário, ferramentas que permitam acessar cada vez mais informações com agilidade ganham ainda mais relevância, seja para diagnósticos rápidos na atenção primária para descobrir alterações ou acompanhar pacientes que já estão em tratamento. Conhecidos como Point of Care (POC), esses testes rápidos possuem aplicação que vão desde o diagnóstico de Influenza até o rastreamento de doenças crônicas e silenciosas, como diabetes e hipertensão. Muitas das vezes, esses resultados são obtidos após uma amostra simples de sangue em até 15 minutos, dependendo do teste.
Segundo Cyrille Schroeder, vice-presidente de Marketing da Alere, multinacional desse segmento, a testagem rápida e portátil é uma aliada na luta pelo preenchimento dessas lacunas epidemiológicas e no acesso ao diagnóstico e acompanhamento médico em um cenário em que os sistemas de saúde estão sobrecarregados, como no Brasil.
“O Point of Care fornece uma ampla gama de ferramentas para a assistência farmacêutica, permitindo que essa rede possa atuar para desafogar os gargalos da saúde. Mais do que isso, a praticidade desse tipo de exame traz vantagens no entendimento epidemiológico de doenças, chegando a pacientes assintomáticos que não se preocupariam em realizar um exame em curto ou médio prazo, transformando desinformação em informação. Graças a um resultado rápido que lhe dê um sinal de alerta, ele pode passar a procurar o apoio de um médico especialista, sem necessariamente passar pela rede de pronto-atendimento sobrecarregada”, explica.
Com o envelhecimento da população, a preocupação com a efetivação de estratégias de rastreamento e acompanhamento como a assistência farmacêutica são fundamentais. Investindo em diagnóstico precoce, é possível mitigar os custos de tratamentos ou intervenções, além de atuar na prevenção de sequelas e óbitos. Segundo o Ministério da Saúde, mais de 50% dos brasileiros com mais 60 anos apresentam algum tipo de dislipidemia que poderia levar a doenças como a hipertensão. Esta, por sua vez, é responsável por 40% dos infartos, 80% dos derrames e 25% dos casos de insuficiência renal terminal no País, de acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia.
“Temos hoje a oportunidade de atuar como aliados do poder público em uma luta que estamos perdendo. A Assistência Farmacêutica já é comum em países como Estados Unidos e Europa. Sua implementação no Brasil não é apenas uma tendência, mas uma necessidade”, finaliza Schroeder.