Recente pesquisa¹ indicou que a adição de nozes à dieta mediterrânea melhorou medidas de memória, enquanto a suplementação da dieta com azeite de oliva extravirgem melhorou a cognição global e frontal, em idosos. Os resultados sugerem que as intervenções nutricionais para proteger a função cerebral devem ser iniciadas “na fase pré-clínica, antes de qualquer comprometimento”, segundo os autores. Acredita-se que o estresse oxidativo e o comprometimento vascular podem mediar parcialmente o declínio cognitivo relacionado ao envelhecimento, um forte fator de risco para o desenvolvimento de demência.
Para investigar se a dieta mediterrânea suplementada com alimentos ricos em antioxidantes pode influenciar a função cognitiva em comparação com uma dieta controle, o estudo Predimed foi realizado. Para tal, 447 voluntários cognitivamente saudáveis de Barcelona, Espanha (233 mulheres [52,1%]; com média de idade de 66,9 anos), com alto risco cardiovascular, matriculados em estudo prévio, foram randomizados para receber: dieta mediterrânea suplementada com azeite extra virgem (1 L/semana), nozes mistas (30 g/d), ou uma dieta controle (com aconselhamento para redução de gordura).
Os participantes do estudo tinham diabetes tipo 2 ou, pelo menos, três dos cinco fatores de risco cardiovascular: tabagismo, hipertensão arterial, dislipidemia, sobrepeso ou obesidade e história familiar de doença arterial coronariana precoce. Os pesquisadores descobriram que, em comparação com o grupo controle, o composto de memória melhorou significativamente no grupo que recebeu a dieta mediterrânea associada a nozes. No grupo que recebeu a dieta com azeite, houve melhora significativa em comparação com escores da dieta controle.
Os autores acreditam que os efeitos cognitivos benéficos observados no estudo provavelmente podem ser explicados a partir dos elementos antioxidantes e anti-inflamatórios dos alimentos presentes nos dois grupos. O azeite de oliva e as nozes são ricos em compostos fenólicos que podem neutralizar processo oxidativo no cérebro, levando a neurodegeneração. Polifenóis também podem melhorar o fluxo sanguíneo vascular cerebral, modular a sinalização neuronal, aumentar a síntese de fatores neurotróficos, e estimular a neurogênese.
A melhoria vascular é outro mecanismo pelo qual a dieta mediterrânea pode promover a saúde do cérebro. Exames de ressonância magnética têm encontrado um forte efeito benéfico desta dieta em hiperintensidades da substância branca e infartos cerebrais subclínicos. Os autores observaram que ela reduz a incidência de doença cardiovascular em 30% em comparação com a dieta controle, e que o risco de acidente vascular cerebral foi reduzido em 34% no grupo do azeite e em 49% no grupo das nozes. As dietas também apresentaram um efeito benéfico sobre a pressão arterial e o risco de diabetes.
Como a dieta hipogordurosa controle provavelmente também tenha refletido a dieta mediterrânea, em muitos aspectos (participantes da mesma região geográfica) os benefícios dos dois grupos da dieta mediterrânea foram, provavelmente, devido às nozes adicionadas ou ao azeite de oliva.
Referências
*Wálleri Reis é farmacêutica, mestre em ciências farmacêuticas pela Universidade Federal do Paraná e especialista pela Residência Multiprofissional em Atenção Hospitalar (HC-UFPR). É coautora dos manuais de serviços farmacêuticos da Abrafarma.